A análise de riscos é um processo fundamental para a segurança no trabalho com máquinas e equipamentos, especialmente em conformidade com normas como a NR12 e a NBR ISO 12100. O HRN (Hazard Rating Number) é uma ferramenta amplamente utilizada para priorizar riscos, mas sua aplicação incorreta pode comprometer a eficácia das ações de controle. Neste artigo, exploraremos os erros mais comuns na utilização do HRN, como evitá-los, e os pontos de atenção para garantir que essa metodologia seja aplicada de forma rigorosa e alinhada às normativas.


O Que é HRN e Sua Função?

O HRN é uma metodologia quantitativa que calcula o nível de risco com base em quatro fatores principais:

Fórmula: HRN = P × S × E × N

  • P (Probabilidade): A chance de o evento perigoso ocorrer.
  • S (Severidade): A gravidade das consequências potenciais.
  • E (Exposição): A frequência com que as pessoas são expostas ao perigo.
  • N (Número de pessoas): O total de pessoas potencialmente afetadas.

O valor resultante do HRN é utilizado para classificar os riscos e auxiliar na priorização das ações de mitigação. Embora o método seja simples em sua essência, seu uso inadequado pode levar a decisões equivocadas ou até à negligência de riscos críticos.


Erros Comuns na Utilização do HRN

1. Classificar Riscos Como “Aceitáveis” Baseado Apenas no Valor do HRN

Um erro recorrente é interpretar valores baixos do HRN como automaticamente aceitáveis. Conforme a ABNT NBR ISO 12100, a aceitação de riscos só pode ser feita após a avaliação completa de riscos (item 5.6) e a implementação de medidas adequadas (item 6). A classificação numérica do HRN é apenas uma etapa de priorização e não deve ser confundida com a decisão final de aceitação.

Evite: Concluir que um risco é aceitável sem passar por todas as etapas descritas na NBR ISO 12100 e NR12. Por exemplo, mesmo com um HRN baixo, deve-se avaliar se medidas adicionais poderiam reduzir ainda mais o risco residual.


2. Subjetividade na Atribuição de Valores

Outro erro comum está na falta de critérios claros e objetivos para atribuir valores às variáveis do HRN. Diferentes avaliadores podem interpretar a severidade, probabilidade ou frequência de forma divergente, resultando em inconsistências.

  • Exemplo prático: Um avaliador pode considerar a probabilidade de acidente em uma máquina como “baixa”, enquanto outro a classifica como “moderada”, gerando resultados contraditórios.

Evite: Use tabelas padronizadas para definir os critérios de cada variável, como sugerido na NBR ISO 12100, item 5.5.3, que recomenda a utilização de métodos consistentes para estimar riscos.


3. Ignorar a Especificidade do Contexto

Riscos variam de acordo com o ambiente, as condições de operação e os processos envolvidos. Aplicar valores genéricos sem considerar essas especificidades pode levar a uma análise imprecisa.

  • Exemplo: Uma máquina operada em ambiente com alta umidade pode ter maior probabilidade de falha elétrica, mas isso pode não ser refletido no HRN se o contexto não for analisado.

Evite: Inclua informações detalhadas sobre o contexto na análise, conforme descrito no item 5.3.3 da NBR ISO 12100, que enfatiza a importância de considerar os “limites ambientais e de operação” da máquina.


4. Falha na Documentação

A ausência de registros claros é um erro grave, pois dificulta a revisão e a auditoria da análise de riscos. Isso contraria os requisitos da NR12, item 12.15, que exige a documentação detalhada de todas as etapas do processo de apreciação de riscos.

Evite: Documente todo o processo, incluindo os critérios usados para atribuir valores ao HRN, as justificativas para decisões tomadas e as medidas implementadas.


5. Foco Exclusivo em Riscos de Alto HRN

Concentrar esforços apenas nos riscos classificados como “altos” ou “críticos” pode levar à negligência de riscos menores, que, acumulados, podem resultar em incidentes graves.

  • Exemplo: Uma máquina com HRN moderado pode apresentar risco crescente devido ao desgaste ou à ausência de manutenção preventiva.

Evite: A NR12, item 12.7, enfatiza que a manutenção e a inspeção devem ser aplicadas a todas as máquinas, independentemente do risco inicial calculado.


6. Não Revisar a Análise Periodicamente

Riscos podem mudar ao longo do tempo devido a fatores como envelhecimento de máquinas, alterações nos processos ou introdução de novos equipamentos. Realizar uma única análise e não revisá-la é um erro que pode comprometer a segurança.

Evite: Siga as diretrizes da NBR ISO 12100, item 7, que exige a revisão periódica e a atualização da análise de riscos sempre que houver mudanças no ambiente ou no ciclo de vida da máquina.


7. Pular a Etapa de Redução de Riscos

Mesmo após calcular o HRN, é essencial implementar medidas de redução de riscos, conforme o item 6 da NBR ISO 12100 e a NR12, item 12.8.1. Ignorar essa etapa significa não atender às obrigações legais e normativas.

Evite: Aplique a hierarquia de controle de riscos:

  1. Medidas inerentes ao projeto (como eliminação de perigos).
  2. Medidas técnicas (barreiras, dispositivos de intertravamento).
  3. Medidas organizacionais e EPIs (última linha de defesa).

Boas Práticas para Evitar Erros

1. Capacitação e Padronização

Garanta que os responsáveis pela análise sejam treinados e utilizem critérios padronizados para minimizar subjetividades, como descrito no item 12.16 da NR12 sobre capacitação obrigatória.

2. Ferramentas Digitais

Use softwares específicos para análise de risco, que automatizam cálculos, geram relatórios e garantem consistência.

3. Formação de Equipes Multidisciplinares

A NBR ISO 12100, item 4, recomenda a participação de profissionais de diferentes áreas na análise de riscos para ampliar perspectivas e minimizar vieses.

4. Revisão Contínua

Implemente um plano de revisão periódica, especialmente após modificações no ambiente, equipamentos ou processos.


Exemplo de Aplicação Correta do HRN

Cenário: Uma prensa mecânica em uma indústria apresenta os seguintes fatores:

  • P (Probabilidade): 3 (moderada).
  • S (Severidade): 4 (grave, podendo causar amputação).
  • E (Exposição): 4 (exposição diária).
  • N (Número de pessoas): 5.

Cálculo do HRN: HRN = 3 × 4 × 4 × 5 = 240.

Análise: O valor do HRN indica uma prioridade alta para análise de redução de riscos. As medidas iniciais incluem:

  1. Revisar o projeto: Avaliar se dispositivos de segurança adicionais podem ser integrados.
  2. Implementar barreiras: Adicionar proteções físicas para prevenir acesso à zona de perigo.
  3. Treinar operadores: Garantir que todos estejam capacitados para operar a máquina com segurança.

Por tudo isso….

O uso do HRN na análise de riscos é uma ferramenta poderosa, mas somente quando aplicada com rigor técnico e metodológico. Erros como a subjetividade, a falta de documentação e a negligência na revisão podem comprometer a segurança dos trabalhadores e a conformidade com as normas.

A NR12 e a NBR ISO 12100 fornecem diretrizes claras para evitar esses erros, destacando a importância de um processo iterativo e colaborativo. Aplicar o HRN corretamente não só melhora a segurança, mas também demonstra o compromisso da organização com a excelência operacional e o bem-estar de seus colaboradores.